Homeopatia na ENSP: maioridade e sucesso

Homeopatia na ENSP: maioridade e sucesso

Publicada em 27/02/2007

O atendimento ambulatorial de homeopatia está prestes a completar 21 anos na ENSP. Criado em setembro de 1986, esse método de tratamento atende a aproximadamente 10% das pessoas cadastradas no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP) e vem alcançando resultados entre os moradores da região de Manguinhos, no entorno do Campus da Fiocruz. No entanto, a médica sanitarista e homeopata do Centro de Saúde Gissia Gomes Galvão alerta que, prestes a completar a maioridade, alguns problemas como o acesso gratuito aos medicamentos, as condições de vida da população local e a falta de informação que muitas pessoas têm em relação à homeopatia e aos medicamentos manipulados podem vir a impor dificuldades no tratamento.

Gissia se formou na Faculdade de Medicina de Petrópolis, se especializou em homeopatia e cursou residência em Saúde Pública da ENSP. No segundo ano de residência, propôs a criação de um serviço de homeopatia no Centro de Saúde. De acordo com a homeopata, naquela época, esse tipo de tratamento não era considerado uma prática de saúde pública pelos orientadores da residência, mas com o apoio da chefia do CSEGSF, o serviço foi implantado. Nos seis primeiros meses tivemos uma resposta muito boa dos moradores, dos pacientes. O tratamento de homeopatia é totalmente individualizado, cada paciente tem um medicamento e isso foi explicado para os moradores. Nas conversas também queríamos verificar como o paciente se relaciona com o ambiente e com sua família, pois isso é um problema delicado aqui em Manguinhos.

A grande maioria dos pacientes recebidos no atendimento ambulatorial de homeopatia do Centro de Saúde são crianças de zero a quatro anos com problemas de asma, bronquite e rinite alérgica. No entanto, Gissia revela que, independente da forma de tratamento, se as condições de vida da população não forem modificadas, os resultados estarão aquém dos esperados. Embora tenhamos resultados positivos, as condições de vida das pessoas precisam ser revistas. Esse fato talvez tenha me levado para um outro caminho aqui na ENSP, que é o da promoção da saúde, aliando as práticas não convencionais à promoção da saúde.

A questão do acesso aos medicamentos também é um problema que afeta os moradores de Manguinhos e de toda a rede pública. Gissia conta que entre 2003 e 2006 fez parte da assessoria ao Ministério da Saúde (MS) na formação de uma Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, da qual a homeopatia faz parte. Nessa ocasião, a médica afirma que a questão do acesso gratuito ao medicamento homeopático foi colocada como um problema crucial para o tratamento.

Gissia revela que o trabalho realizado pelo Ambulatório de Homeopatia, do qual também faz parte o médico pediatra e homeopata Pedro Jonathas, tem uma importância fundamental na vida dos pacientes. Uma grande demanda que temos são crianças com doenças alérgicas. Com o tratamento, observamos uma diminuição das crises em termos de intensidade e periodicidade. Além disso, percebemos uma melhora na vida das crianças que com a solução dos problemas respiratórios passam a comer e dormir melhor. O tratamento melhora vários aspectos de suas vidas.

Ansiedade e desconfiança ainda são barreiras

A ansiedade com relação à rapidez do tratamento ainda é uma barreira a ser superada pela homeopatia, assim como a desconfiança de alguns pacientes, gestores e até profissionais de saúde. Gissia revela que o tratamento através da homeopatia não é tão lento quanto imaginam, e afirma que, quando é indicado o medicamento correto, na potência ideal, os resultados pode ser tão rápidos quanto o do tratamento alopático. A resistência de profissionais alopatas (medicina convencional) à homeopatia era muito maior há vinte anos, quando começou a implantação da homeopatia na rede pública. Hoje, percebo uma resistência menor, mas ela ainda existe.

Uma questão enfrentada pelo médico homeopata da rede pública é em relação ao número de consultas. Muitas vezes, há uma pressão em cima do médico para atender um número grande de pacientes, o que não é muito fácil na homeopatia. Uma coisa diferente do consultório é que atendemos muita gente. A sociedade em que vivemos é imediatista, portanto, deve haver uma mudança cultural. O médico homeopata da rede pública não pode só ficar atendendo. Ele tem que falar o que é a homeopatia para o profissional de saúde, para o paciente e para o gestor. É um trabalho contra-hegemônico, de convencimento.

Terapias alternativas são reconhecidas pelo SUS

Em maio de 2006, o Ministério da Saúde lançou a Portaria Nº 971, de 3 de maio de 2006, que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS. De acordo com a médica sanitarista e homeopata do CSEGSF/ENSP, essa atuação do Ministério foi fundamental. Ela ressalta que participou da Comissão de Saúde Pública da Associação Médica Homeopática Brasileira, há mais de 15 anos, que lutou para aumentar o espaço do tratamento homeopático no país.

Foi essa associação que conseguiu montar um grupo de trabalho e elaborar políticas. Tivemos o cuidado de não concentrar a homeopatia só na assistência. Outras diretrizes que colocamos foram referentes à informação, à educação em saúde, ao desenvolvimento de cartilhas e cartazes para esclarecer a população. As pessoas confundem homeopatia com fitoterapia, e acham que qualquer medicamento manipulado é homeopatia. Isso ocorre tanto com o usuário quanto com o profissional de saúde e o gestor. A atuação do Ministério foi de extrema importância, pois, além de termos um maior número de médicos homeopatas no SUS, em termos de mercado de trabalho, poderemos avaliar o trabalho que vem sendo desenvolvido com a homeopatia.

Todo medicamento manipulado é homeopático?

Não. A manipulação de medicamentos, realizada nas farmácias de manipulação com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não é restrita aos medicamentos homeopáticos. Medicamentos alopáticos (medicamentos comuns) e fitoterápicos, minerais e vitaminas, também podem ser manipulados. Da mesma forma, os medicamentos homeopáticos também estão disponíveis em farmácias e drogarias que vendem especialidades farmacêuticas industrializadas.

Fonte: http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/site/materia/detalhe/2963