Gotinhas são usadas no combate à dengue

Gotinhas são usadas no combate à dengue

Campanha com remédio homeopático reduziu em mais de 70% os casos da doença em Macaé (RJ).

Ismar Madeira
Macaé, RJ

O arsenal está sempre a postos. O comandante Valdir entra em uma aventura contra a doença que preocupa a população de centenas de cidades no verão. O destino é Macaé, no litoral norte do estado do Rio de Janeiro. A cidade de 180 mil habitantes está vencendo a guerra contra a dengue.

Na rodoviária, um pelotão de agentes de saúde e a arma usada no combate à doença: um remédio a conta-gotas. A aplicação é sempre em lugares com muita movimentação de pessoas. No ano passado, foram 200 mil doses. E qualquer um pode tomar porque o remédio não tem contraindicação – bastam duas gotinhas.

“Não é vacina. É um medicamento homeopático que ajuda a prevenir os sintomas da dengue. A tendência é que a pessoa adquira a forma mais branda da doença”, explica a homeopata e sanitarista Laila Nunes, coordenadora de saúde coletiva de Macaé.

O resultado foi surpreendente desde que as gotinhas homeopáticas começaram a ser aplicadas no município, em 2007. Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro e na região norte do estado, o número de casos de dengue cresceu mais de 300%. Mas em Macaé, que estava no meio do foco, a doença não encontrou espaço: o número de casos caiu 62%.

A casa da professora Tarsila Carneiro da Silva está na estatística. Ela teve dengue em 2007 e não teve em 2008. Diz que redobrou os cuidados, evitando depósitos de água parada.

A família toda tomou o remédio homeopático. Quer se proteger dos sintomas fortes que assustaram.

“Eu não aguentava ficar sentada na cama”, lembra Tarsila.

“Minha maior preocupação era a dengue hemorrágica. Tinha gente que estava morrendo por causa desse problema”, diz o marido de Tarsila.

“Se nós achamos que cuidamos, temos que cuidar ainda mais porque é perigoso e doloroso”, ressalta Tarsila.

Contra um inimigo tão poderoso, artilharia pesada. O pelotão do fumacê entra em ação nas áreas onde surgem novos casos. O inseticida pode exterminar mosquitos adultos que estejam voando. E o larvicida combate os que ainda nem nasceram.

Água transparente e limpa é exatamente do que os mosquitos gostam. Se ela estiver coberta com uma telha, na sombra, então, é ideal para depositar ovos, que em pouco tempo se transformam em larvas. Em menos de sete dias, um novo mosquito surge e já pode sair do telhado mesmo voando por aí, contaminando toda uma comunidade. Uma única fêmea é capaz de picar até 300 pessoas.

O Aedes aegypti é muito parecido com um pernilongo comum, só que mais escuro, com listras brancas. Costuma picar as pessoas durante o dia. E é voando que Macaé contra-ataca.

“O mais comum são piscinas de casas de veraneio abandonadas, com águas verdes, e caixas d’água sem tampa”, conta o comandante Valdir.

Uma busca às trincheiras de onde podem sair exércitos de mosquitos. Agente infiltrado na casa de seu Hamilton, que não imaginava larvas na caixa d’água.

“Este período é muito preocupante porque, com a chuva e depois com o calor, a tendência é que surjam mais focos do mosquito”, alerta doutora Laila.

Não parece, mas o pequeno Maycki, de 2 anos, está com dengue. A mãe dele, a funcionária pública Adriana Barbosa Lima, também pegou a doença no mês passado. Mas eles não se abateram.

“Não tivemos sintomas mais graves por causa da homeopatia. Trabalhei normalmente. Não foi tão grave”, conta Adriana.

Foi o que o estudo da doutora Laila Nunes comprovou: o remédio alternativo faz diferença. Mas não é uma fórmula pronta. Em cada temporada, ela visita os primeiros pacientes para saber os sintomas mais comuns e definir a receita para aquela comunidade.

O remédio é feito de substâncias que, segundo a homeopatia, servem para amenizar a febre, as dores no corpo e até diminuir a tendência à hemorragia.

“Nós já utilizamos três tipos de medicamentos em épocas diferentes. A cada epidemia esse medicamento pode mudar”, diz doutora Laila.

“Espero não pegar mais dengue. Dengue, na minha família, não”, conclui Adriana.

Fonte: http://g1.globo.com/globoreporter/0,,MUL970046-16619,00-GOTINHAS+SAO+USADAS+NO+COMBATE+A+DENGUE.html