Saúde de gota em gota

Um menino à beira de um ataque de nervos. Por sorte, agora André extravasa as emoções só no campo de futebol com os colegas.

“Além das doenças que ele tinha, era uma criança superativa e muito nervosa. Enfrentava todo mundo e não existia nada que conseguisse controlá-lo”, conta a mãe de André, a dona de casa Gislene Oliveira.

Gislene mudou de idéia depois que conheceu uma terapia descoberta há 200 anos por um médico alemão. O que teria acontecido com André para ele se tornar o menino tranqüilo de hoje?

A idéia que sempre se teve é que terapias alternativas são tratamentos de efeitos mais demorados e de preços mais elevados, e que, por isso, sempre estiveram restritas a clínicas especializadas e consultórios em áreas mais nobres da cidade, bem longe de lugares como o Jardim Ângela, onde a homeopatia conquistou a comunidade e há dois anos vem mudando a história de muitas famílias.

O bairro fica na Zona Sul de São Paulo, às margens da Represa de Guarapiranga. A Associação de Voluntários Monte Azul acolhe as crianças quando elas não estão na escola, para a alegria da criançada.

David, o irmão André, Ruth e Samuel têm atenção completa, integral. Foi num consultório de homeopatia que a vida de André e seus irmãos começou a mudar. As consultas são demoradas com as crianças.

Quando a médica homeopata Célia Barollo chegou, há dois anos, a situação era bem diferente. “Eram crianças que viviam no pronto-socorro, indo a unidades básicas de saúde, e estavam sempre tomando antibiótico”, lembra.

Hoje mães e crianças fazem fila no posto dentro da associação. São ouvidas e recebem, além dos remédios, o que talvez não teriam fora dos muros da associação.

“Estou vendo o resultado”, diz a auxiliar de escritório Liliane de Jesus.

“Elas não entendiam direito como duas bolinhas de açúcar podem equilibrar o organismo e melhorar a saúde das crianças. À medida que elas foram percebendo que as crianças começaram a melhorar tomando os medicamentos ficaram mais animadas”, conta a médica homeopata.

São mesmo bolinhas de açúcar impregnadas com o que os homeopatas chamam de energia vital. De um laboratório público dentro de um posto de saúde em São Paulo saem os medicamentos usados pelas crianças do Jardim Ângela. A farmacêutica usa uma tintura da substância que vai dar origem aos medicamentos.

A tintura é diluída e agitada cem vezes, sucessivamente, num processo que acaba por eliminar qualquer vestígio físico da substância original.

“Existem várias teorias que explicam a passagem, vamos dizer, da energia medicamentosa”, diz a farmacêutica homeopata Alcione Alencar.

A ciência ainda não conseguiu demonstrar como é o funcionamento da homeopatia. Novos estudos buscam provar que a agitação das moléculas de água poderia mesmo impregnar o medicamento de algum tipo de energia desconhecida e, assim, reequilibrar os seres vivos.

Na casa de Gislene, a desconfiança ficou para trás. Os medicamentos homeopáticos estão ao alcance da mão. Outras mães desistiram porque o resultado demorou. Mas, para o bem de André, a mãe dele não abandonou o tratamento.

“É preciso ter muita paciência. É bem lento, mas quando o resultado começou, foi completo”, diz Gislene.

Ruth ainda toma para sinusite e bronquite. André já não precisa mais. Melhorou das dores de cabeça, da hiperatividade, do comportamento agressivo e aumentou a concentração.

“Eu tenho outro filho. É outra criança, completamente diferente”, avalia a mãe do menino.

E até que ponto esses benefícios se estendem? Os médicos dizem que, quando a saúde responde ao tratamento, é natural que os efeitos acabem alcançando outras partes da vida. Pois o resultado do equilíbrio de muitas crianças conseguido no consultório de homeopatia já está se refletindo na sala de aula.

A atual professora de André, Regina Oliveira, acompanhou a melhora do comportamento do menino. Hoje, um tranqüilo André consegue pintar sem jogar a tinta nos colegas.

“Ele foi se desenvolvendo aos poucos. E agora já está começando a ler, conversa com os colegas e me ajuda em sala de aula. Enfim, está ótimo”, elogia a professora.

“Eu espero que ele não precise usar nem homeopatia. Mas, se precisar, ela não vai sair da minha casa tão cedo”, conclui Gislene.

Fonte: http://globoreporter.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-10847-3-174939,00.html