“Homeopatia não é efeito placebo” como demonstra o “Dossiê: Evidências Científicas em Homeopatia”.

“Homeopatia não é Efeito placebo” como demonstra o “Dossiê:
Evidências Científicas em Homeopatia”
elaborado pelo CREMESP e disponibilizado em edições trilingues de livre acesso.
Marcus Zulian Teixeira*

Ao discorrermos sobre a homeopatia, em diversas situações, frequentemente, notamos que as pessoas reagem com manifestações de desconfiança, questionando sua comprovação científica e a validade terapêutica do método.

Proclamadas em todos os meios, de forma indistinta e reiterada, as falácias ou notícias falsas (fake news) de que “a homeopatia é efeito placebo” ou de que “não existem evidências científicas em homeopatia” acaba se incorporando ao inconsciente da coletividade, servindo como estratégias pseudocéticas para aumentar preconceitos e radicalizar posicionamentos contrários a essa prática médica bissecular.
Fruto da desinformação ou negação dos estudos científicos que fundamentam o modelo homeopático em vários campos da pesquisa científica moderna, esses preconceitos se retroalimentam, periodicamente, com matérias e artigos depreciativos e contrários à homeopatia publicados nas mídias de massa (jornais, sites e revistas não científicas) e redes sociais, as quais, raramente, divulgam os trabalhos científicos com resultados favoráveis à homeopatia.

Com o intuito de esclarecer médicos, profissionais da saúde, entidades de classe, pesquisadores, gestores, pacientes e a sociedade em geral, buscando desmistificar essas posturas dogmáticas e inverídicas culturalmente arraigadas, em 2017, a Câmara Técnica de Homeopatia do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CTHomeopatia do CREMESP) elaborou o Dossiê Especial: “Evidências Científicas em Homeopatia” [1].
Esse projeto contou com o apoio da Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB) e da Associação Paulista de Homeopatia (APH), com a sua publicação na Revista de Homeopatia (São Paulo) da APH em três edições independentes de livre acesso: online em português [2], online em inglês [3] e impressa em português [4].

Expandindo sua divulgação para o público de língua espanhola, este dossiê acaba de ser publicado na revista científica La Homeopatía de México em uma edição especial comemorativa do 90º aniversário da mesma [5].

Além de trazer o panorama mundial da homeopatia como especialidade médica e de sua inclusão nos currículos das faculdades de medicina, o referido Dossiê abarca outras revisões narrativas sobre as linhas de pesquisa que fundamentam os pressupostos científicos homeopáticos, a saber: princípio da similitude terapêutica, experimentação patogenética homeopática, emprego de medicamentos dinamizados (ultradiluições) e individualizados segundo a totalidade sintomática característica do binômio doentedoença.

Analogamente, a eficácia e a segurança do tratamento homeopático estão evidenciadas na descrição de ensaios clínicos randomizados e placebos-controlados, assim como em revisões sistemáticas e metanálises.
Abrindo o Dossiê, a revisão “Homeopatia: um breve panorama desta especialidade médica” aborda os aspectos históricos, sociais e políticos da institucionalização da homeopatia no Brasil e sua incorporação aos sistemas de atenção à saúde, descrevendo fatores que levam a população a buscar essa forma de tratamento.
Na revisão sobre o “Panorama mundial da educação médica em terapêuticas não convencionais (homeopatia e acupuntura)”, destaca-se a importância dedicada à incorporação do ensino da homeopatia e da acupuntura aos currículos das faculdades de medicina de inúmeros países, em vista do interesse crescente da população em sua utilização e, consequentemente, da classe médica em seu aprendizado, com propostas direcionadas a estudantes, residentes, pós-graduandos e médicos.
Embasando cientificamente o princípio da similitude terapêutica no estudo sistemático do efeito rebote dos fármacos modernos, a revisão “Fundamentação científica do princípio de cura homeopático na farmacologia moderna” engloba centenas de estudos clínicos (metanálises, revisões sistemáticas, ensaios clínicos randomizados placeboscontrolados, estudos de coorte e de caso-controle, dentre outros) publicados em periódicos científicos de impacto e que atestam a similaridade de conceitos e manifestações entre o fenômeno rebote e a reação vital ou ação secundária do organismo despertada pelo tratamento homeopático.

Ampliando essa fonte de evidências, descreve o uso dos fármacos modernos segundo o princípio da similitude terapêutica, empregando o efeito rebote (reação paradoxal do organismo) de forma curativa.
Justificando a plausibilidade do emprego de medicamentos dinamizados (ultradiluídos) pela homeopatia, o Dossiê reúne três revisões que demonstram o progresso da pesquisa básica em homeopatia nas últimas décadas, descrevendo centenas de experimentos controlados e dezenas de linhas de pesquisa que atestam o efeito das ultradiluições em modelos físico-químicos e biológicos (in vitro, plantas e
animais): “A solidez da pesquisa básica em homeopatia”, “Efeito de ultradiluições homeopáticas em modelos in vitro: revisão da literatura” e “Efeito de ultradiluições homeopáticas em plantas: revisão da literatura”.
Comprovando que os efeitos positivos do tratamento homeopático não são, exclusivamente, efeitos placebo como se repete indiscriminadamente, a revisão “Pesquisa clínica em homeopatia: revisões sistemáticas e ensaios clínicos randomizados controlados” relata os resultados positivos observados em dezenas de ensaios clínicos homeopáticos placebos-controlados para condições clínicas diversas,
assim como em revisões sistemáticas e metanálises.

Esses resultados são exemplificados em dois ensaios clínicos randomizados e placebos-controlados realizados por integrantes da CT-Homeopatia em importantes instituições de pesquisa brasileiras: “Estrogênio potencializado no tratamento homeopático da dor pélvica associada à endometriose: Um estudo de 24 semanas, randomizado, duplo-cego e placebo-controlado” e “Estudo clínico, duplo-cego, randomizado, em crianças com amigdalites recorrentes submetidas a tratamento homeopático”.
Evidenciando a segurança do tratamento homeopático, a revisão “O medicamento homeopático provoca efeitos adversos ou agravações medicamento-dependentes?” demonstra, em ensaios clínicos randomizados e placebos-controlados, que os medicamentos homeopáticos produzem mais efeitos adversos do que o placebo, embora os mesmos sejam leves e transitórios.
Finalizando o Dossiê, a revisão “O medicamento homeopático provoca sintomas em voluntários aparentemente sadios? A contribuição brasileira ao debate sobre os ensaios patogenéticos homeopáticos” discorre sobre o desenvolvimento histórico e o estado da arte da experimentação patogenética homeopática, utilizada para se evidenciar as propriedades curativas das substâncias (efeitos patogenéticos em indivíduos sadios) que possibilitam a aplicação do princípio da similitude terapêutica.

Apesar das dificuldades e limitações existentes para o desenvolvimento de pesquisas na área, tanto pelos aspectos metodológicos quanto pela ausência de apoio institucional e financeiro, as centenas de estudos experimentais e clínicos citados no referido Dossiê, os quais fundamentam os pressupostos científicos homeopáticos e confirmam a eficácia e a segurança da terapêutica, é prova inconteste de que “a homeopatia não é efeito placebo” e de que “existem evidências científicas em homeopatia”, ao contrário do preconceito falsamente disseminado por pseudocéticos e pseudocientistas [6,7].

Com a divulgação do presente Dossiê, esperamos dissipar dúvidas e sensibilizar nossos colegas médicos quanto à validade e relevância da homeopatia como tratamento adjuvante complementar a todas as outras especialidades médicas segundo princípios éticos e seguros.

Em conformidade com esta abordagem integrativa, a prática homeopática permite alargar a compreensão do adoecer humano, aumentar os recursos terapêuticos, contribuir para a eficácia da medicina no tratamento das doenças crônicas, minimizar os efeitos adversos dos medicamentos modernos e fortalecer a humanização da relação médicopaciente, entre outros aspectos. No entanto, novos estudos devem continuar a ser desenvolvidos, para aprimorar a prática clínica e elucidar aspectos singulares ao paradigma homeopático.

Referências:


[1] Teixeira MZ. Special Dossier: “Scientific Evidence for Homeopathy”. Rev Assoc Med
Bras (1992). 2018; 64(2): 93-94. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1806-
9282.64.02.93.

[2] Câmara Técnica de Homeopatia do Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Paulo (CREMESP). Dossiê Especial: Evidências Científicas em Homeopatia. Rev
Homeopatia (São Paulo. Online). 2017; 80(1/2). Disponível em:
http://revista.aph.org.br/index.php/aph/issue/view/41/showToc.
[3] Technical Chamber for Homeopathy, Regional Medical Council of the State of São Paulo
(CREMESP). Special Dossier: Scientific Evidence for Homeopathy. Rev Homeopatia (São
Paulo. Online). 2017; 80(3/4). Disponível em:
http://revista.aph.org.br/index.php/aph/issue/view/42/showToc.
[4] Câmara Técnica de Homeopatia do Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Paulo (CREMESP). Dossiê Especial: Evidências Científicas em Homeopatia. Rev
Homeopatia (São Paulo. Impressa). 2017; 80(Supl 1/2). Disponível em:
http://www.bvshomeopatia.org.br/revista/RevistaHomeopatiaAPHano2017VOL80Supl1-
2.pdf.
[5] Cámara Técnica de Homeopatía del Consejo Médico Regional del Estado de São Paulo
(CREMESP, Brasil). Evidencias Científicas de la Homeopatía. Homeopatia Méx 2023;
187(esp). Disponível em:
http://homeopatiamex.similia.com.mx/index.php/Revista/issue/view/90-aniversario-2023.
[6] Teixeira MZ. Falácias pseudocéticas e pseudocientíficas do “Contradossiê das
Evidências sobre a Homeopatia”. São Paulo: Associação Paulista de Homeopatia (APH); 2020

43 p. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio1145551?lang=en.
[7] Teixeira MZ. Pseudoskeptical and pseudoscientific strategies used in attacks on
homeopathy. Rev Assoc Med Bras (1992). 2021; 67(6): 777-780. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/1806-9282.20210367.


*Marcus Zulian Teixeira
Médico Homeopata. Doutor em Ciências Médicas e Pós-doutorando da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Ex-integrante da Câmara Técnica de
Homeopatia do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP, 2017-
2018). https://orcid.org/0000-0002-3338-8588. marcus@homeozulian.med.br